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RETRATOS

PRESENÇA AUSENTE

A roupa habita-nos na opacidade dos dias. Dá-nos o seu calor ou o fresco dos tecidos leves que se movimentam ondulantes. Os padrões inscrevem-se na pele que se vai imprimindo nas peças de roupa em forma de memórias.

Quando damos por isso, saem de nós e tornam-se entidades com vida própria. Mesmo nos dias mais cinzentos existem fiapos de cor, abraços outrora perdidos, peças espalhadas pelo chão, mas com histórias para contar.

As riscas que povoam as camisas são metáforas de narrativas abertas a que cada um tenta dar um final, que mais não é do que um novo começo. As peças de roupa têm sombras e calor, reminiscência de um erotismo contido que se revela, quando por fim se soltam numa junção de tecidos a que chamamos abraço.

Algures na penumbra de uma noite mal dormida pendem irrequietas vestes abandonadas ao seu destino, amarrotadas de gente e de tempo suado. Uma procura nas ausências dos corpos que vestiram as roupas, os contos e recontos de momentos únicos tatuados no cheiro das formas e movimentos que as marcaram. Laivos salpicos de cor misturam-se no negro das peças.